domingo, 2 de fevereiro de 2020

18:27 - 1 comment

A revelação de Jesus Cristo em Gênesis 2 (Parte 1): O sétimo dia






“No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação.” (Gênesis 2:2,3)

O sétimo dia será um dos temas que voltaremos muitas vezes ao longo deste livro. O sétimo dia, que em português chamamos “sábado”, é referenciado na Bíblia pela palavra hebraica shabat (שבת), que significa "descansar, parar ou deixar de trabalhar".
O que vemos no trecho acima foi que após criar os céus e a terra em seis dias, Deus descansou nesse dia de toda o trabalho que realizou. Mesmo para os judeus, isso não significa que Deus estava cansado e precisava de um descanso. Afinal conforme anuncia a própria escritura, o Deus Eterno não se cansa:

“Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga? É inescrutável o seu entendimento.” (Isaías 40:28)

O Deus que a Bíblia descreve é onipotente, e possui todo o poder. Seria razoável segundo os nossos parâmetros humanos imaginar que poderia representar um árduo gasto de energia ou algo assim, mas para o Deus da Bíblia não representa nada toda a criação, não diminui de modo algum o seu infinito poder, nem o faz cansado, nada poderia ser tão grande ao ponto de deixá-lo exausto. Aqui vemos uma das vezes que alguma ação/ato de  Deus é descrita de maneira humana para facilitar nosso entendimento.
Sendo assim, o que significa que Deus descansou no sétimo dia? O que Deus queria sinalizar para a humanidade com o seu descanso simbólico e o estabelecimento do Sábado do descanso? Deus simplesmente parou todo o trabalho que estava fazendo. Deus usou o próprio exemplo do seu “descanso” no sétimo dia da Criação para estabelecer o princípio do descanso sabático.
Leia com atenção o texto a seguir:

“Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; por isso o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de sábado.” (Deuteronômio 5:15)
Talvez você se pergunte “Sendo um princípio estabelecido desde a Criação, o que tem o Êxodo a ver com o descanso no sétimo dia?”. O Êxodo trata-se de liberdade. Imagine nos tempos antigos, o lazer estava destinado apenas para a alta classe; escravos não tinham dias de descanso. Assim, ao descansar no Shabat, o povo era lembrado de que eram livres. Assim como os judeus poderiam descansar porque Deus os fez livres dos poderes dos egípcios, também do mesmo modo nós podemos descansar porque fomos libertos por Cristo da escravidão do pecado e dos poderes das trevas.
Num certo sentido, o Shabat liberta das preocupações cotidianas da semana, os prazos e horários apertados e daquela lista imensa de compromissos. Durante a semana, mesmo vivendo em sociedades livres, somos escravos de nossos empregos, de nossos clientes, e da necessidade de prover por nós mesmos. O princípio por trás da observância do Shabat, era ser libertos destas ocupações, preocupações e trabalhos. Os benefícios do descanso são óbvios para a mente e para o corpo, mas ao longo do antigo testamento Deus parece atribuir mais do que um sentido psicológico ou terapêutico ao Sábado, ele tinha sobretudo um sentido espiritual. A pessoa que violasse a lei do sábado era punida com a morte (Êxodo 31:15), logo não se trata de uma sugestão apenas psicoterapêutica, tem que haver um sentido mais profundo.

Com a revelação da Lei de Deus e dos juízos santíssimos Dele, diante de padrões de justiça tão elevados, os judeus começaram a tentar justificar-se através de suas próprias obras, tentando ser pessoas boas ou melhores para assim alcançar o favor de Deus. Semelhante a uma conta corrente no banco, onde se contabiliza os créditos e débitos e procura-se ficar no positivo, ou seja, tenta-se ser bom o suficiente para ser aceito. Essa é uma prática tão humana que acontece em todas as religiões existentes, uma prática que provavelmente todo mundo já se pegou praticando em algum nível. Apesar de todo trabalho e esforço, nunca era suficiente. Os padrões morais de Deus são muito altos, e os nossos muito baixos. Mesmo entre o povo de Deus, eles nunca foram bons o bastante. Israel sempre estava derrapando, caindo em pecados, se corrompendo, idolatrando, não podiam manter todas essas leis, por isso Deus providenciou ofertas e sacrifícios pelo pecado para que pudessem se reconciliar com Deus a fim de obterem perdão e restaurar temporariamente a comunhão.
Não apenas dos judeus daquele tempo, mas até os dias de hoje nossa tendência é sempre trabalhar para alcançar o céu com nosso próprio mérito. Até que uma hora, depois de tanto patinar, percebemos que ainda somos os mesmos pecadores e depois de todo o esforço nossos corações continuam longe de Deus, continuamos sendo egoístas apesar de toda caridade, continuamos sendo pervertidos por baixo de toda capa de religiosidade, finalmente cansamos de brincar de pessoas boas. Nesse momento, podemos encontrar descanso para nossas almas no trabalho de Jesus. Jesus é o nosso descanso final. Jesus é o verdadeiro sábado. Na verdade, Jesus é o que o sábado simbolizava. Jesus é a única fuga para a condenação e a morte eterna (por isso que quem descumpria o sábado, enquanto um símbolo de Jesus, recebia a condenação). Jesus é o descanso daqueles que perceberam que só poderiam entrar no céu pelo mérito de outro, o descanso daqueles que na sinceridade interior perceberam o abismo que havia entre eles e Deus era intransponível, que somente Jesus (o Deus Eterno encarnado em forma humana) atenderia os critérios de Deus, e que jamais conseguiriam por si próprios serem bons o suficiente. Jesus é o descanso para aqueles que se perceberam merecedores do inferno e de toda condenação divina, daqueles que se percebem doentes e procuraram o médico. Enquanto não reconhecemos nossa doença, e não percebermos que não podemos contê-la com nossos meios, jamais procuraremos o médico. Jesus é esse médico que diz para o doente “Descanse de toda preocupação, você está nas minhas mãos agora. Eu sei exatamente como curar você.”

Depois de realizar o último sacrifício, Jesus sentou-se no trono do universo e "descansou", isto é, descansou de sua obra de expiação porque não havia mais nada a ser feito, nunca. Por causa do que Jesus fez, não temos mais que "trabalhar" para guardar a lei a fim de podermos ser justificados aos olhos de Deus. Jesus foi enviado para que possamos descansar em Deus e na salvação que Ele providenciou.
Os vários elementos do sábado que estudaremos em mais detalhes adiante, simbolizavam a vinda do Messias, o qual providenciou um descanso permanente para o seu povo. Assim podemos entender porque Deus diz por meio da lei e dos profetas que guardar o sábado é símbolo da Aliança de Deus e seu povo (Êxodo 31:13/Isaías 56), porque na verdade ele simboliza Jesus:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve [...] Porque eu, o Filho do Homem, sou Senhor do próprio sábado” (Mateus 11.28 - 12:7)

Em outro momento falaremos mais sobre a troca do sábado da criação pelo domingo da ressurreição que vem sendo adotado pela igreja cristã desde os tempos dos apóstolos e pais da igreja. Apesar dessa mudança, o princípio é o mesmo: seis dias são dados para o domínio do homem sobre a natureza, mas o sétimo dia é o Dia do Senhor.

*Clique aqui para conhecer a revelação de Jesus em outros capítulos da Bíblia

1 comments:

Excelente reflexão! Interessante a associação entre descanso e liberdade, nunca tinha pensando sobre isso relacionando com o sétimo dia.

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