A revelação de Jesus Cristo em Gênesis 32: Jacó luta com Jesus
Jacó não é uma figura exemplar. Sua conduta e atitudes não eram a de um fiel servo do Senhor, não combinam com o que se esperaria de um descendente direto da promessa de Abraão, com alguém que o Senhor havia escolhido e confirmado o seu pacto. Dificilmente Jacó poderia ser considerado um mediador entre Deus e as diversas nações circunvizinhas, até porque parece que ele falhou neste papel em sua própria casa. Ele falhou miseravelmente como porta-voz de Deus e como intercessor. Jacó exibia o caráter da humanidade decaída no pecado que necessita de libertação e restauração de Deus. E a semente, chamada para servir, estava grandemente necessitada do próprio serviço que devia prestar. Deus havia dado família, bênçãos e prosperidade, mas agora Deus estava prestes a transformar o caráter de Jacó. Jacó se angustia com os 400 homens de Esaú que estão vindo contra ele, uma possível referência com a angústia da descendência de Israel no Egito por 400 anos (Veja meu comentário sobre Gênesis 15). Jacó prefigura o que o povo de Israel passaria ao longo de sua história, e se divide em dois bandos (Israel futuramente se dividiu em Reino do Norte e Reino do Sul). Assim como foi a conversão de Jacó, assim também será a conversão de Israel num futuro próximo (Romanos 11:26), e assim é a conversão de todos os crentes (O Israel espiritual). Jacó, acostumado a resolver as coisas pela sua própria força, pelos seus próprios meios, finalmente ora. Nesta oração Jacó reconhece ser indigno das misericórdias do Senhor. Jacó estava preocupado em ter de lutar com Esaú, mas o pior acerto de contas era com Deus. Jacó fez passar adiante tudo quanto possuía e ficou sozinho. Era apenas Deus e Jacó agora. E neste momento, um homem misterioso vem lutar com Jacó. No verso 24, o texto bíblico diz que era um homem (do hebraico “Ish”) que veio confrontar Jacó, já nos versos 28 e 30, este homem foi identificado como sendo o próprio Deus (אלהים, pronunciado "Elohim"). Quem seria este que é homem e ao mesmo tempo era Deus? Como você já pode imaginar, só poderia ser o próprio Deus-Homem, Jesus Cristo. Jesus muitas vezes foi identificado como O ANJO DO SENHOR, e neste sentido seria correto dizer que foi “o anjo” que lutou com Jacó. O profeta Oséias diz que “O ANJO” lutou com Jacó, mas não um anjo qualquer (Os 12:4). Um simples anjo é apenas um mensageiro de Deus e executor das suas ordens (Salmos 103:20,21), Um simples anjo não teria autoridade para abençoar por si mesmo alguém (versículo 29). E ninguém jamais viu a Deus, senão por meio do Deus-Homem (João 1:18). Jacó era um homem forte (Gn 29:10), acostumado a conquistar pela força do seu próprio braço. Aqui não foi diferente, mesmo avançado em idade ele resiste ao homem. Jacó “luta” com Deus durante toda a madrugada. O dia já raiava, era hora de Jacó seguir viagem. Então, o Deus-Homem apenas lhe tocou na articulação da coxa e deslocou a junta da coxa de Jacó (o centro da articulação de um lutador, v.31). Mesmo assim, Jacó parece insistir pedindo "Não te deixarei ir se não me abençoares", o profeta Oséias diz que Jacó ao lutar com o anjo “chorou e lhe pediu graça” (Oséias 12:4). O Deus-Homem pergunta “Qual o teu nome?”, ele respondeu "Jacó" (que significaria responder em português “Enganador”). Depois de uma resposta quase confessional, o Deus-Homem disse "Já não te chamarás Jacó, mas Israel, pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste" (v.28). Israel vem de um acróstico "Ki Sarita El" que significa "Príncipe de Deus", "Lutador de Deus" ou ainda "Deus luta". A mesma raiz no hebraico para "Iashar El", que significa "retificar" e "justificar". Daí que vem a palavra "Ieshurum" (Dt 32:14; Deut 33:5; Deut 33:26; Is 44:22) que significa "o Reto, o Justo" e sempre aparece se referindo ao Messias. A missão de Israel está ligada com a justificação e salvação do mundo. Embora pareça que Jacó e mais tarde todo o povo de Israel fracassaram na sua missão de abençoar/enxertar todas as nações da terra no Deus verdadeiro, na verdade essa missão foi cumprida plenamente no Messias. Portanto Israel cumpre sua missão na pessoa do Messias. Jesus Cristo é o descendente perfeito de Jacó que encarna a missão de Israel. Jesus Cristo também sob o mesmo cajado mantém dois bandos (que são o mesmo povo), tanto a igreja dos judeus, como a igreja dos gentios. Jesus, o príncipe de Deus, sendo o “Jacó perfeito”, ficou sozinho com Deus, e foi ferido e então teve vitória na cruz. E essa vitória resultou em reconciliação para o mundo. Que esse encontro na beira do rio Jaboque, um rio que deságua no Jordão, e o Jordão por sua vez simboliza Jesus (Jordão significa “Aquele que desce”), nos lembre que absolutamente tudo deságua em Jesus. Jacó até parece um homem do nosso tempo. Um homem comum com anseios comuns, com pecados comuns, com uma religiosidade mística e comum mas que não afeta seu caráter de modo profundo e significativo. Um homem acostumado a ganhar seu dinheiro, fazer suas coisas, e resolver seus problemas na força do próprio braço. A sua religião é meritocrática. Um homem que barganha e negocia boas obras em troca do favor divino (Gn 28:20-21). Mas um dia este homem em meio às preocupações da vida comum foi surpreendido por Deus. Aquele Deus subjetivo e distante, a realidade que não afetava sua vida cotidiana, agora se torna plenamente conhecido em Jesus Cristo e vem confrontá-lo e feri-lo. Para vencer essa luta, é preciso perder. Neste enfrentamento, o que se pensava forte percebe-se fraco, percebe sua dependência de Deus e em lágrimas clama por graça e misericórdia. Confessa seu real estado de engano e foi para sempre marcado por Deus. E assim Deus faz nascer um novo homem. “Vi Deus face a face e minha vida foi salva” (Gn 32:30).
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