Jesus em Gênesis 49: A Herança de Israel
Jacó está prestes a morrer, chegou a hora de repartir a herança de Israel. Jacó dá as bênçãos e profecias finais para seus doze filhos, um discurso sobre o futuro de cada uma das tribos que é fundamental para entendermos várias dinâmicas que se cumpriram séculos e milênios depois da morte de Jacó. Este capítulo sozinho tem tanta riqueza que valeria uma monografia inteira. Em razão dos pecados de Rúben, e da crueldade de Simeão e Levi, recai sobre Judá a honra de ser o portador da linhagem da semente santa (Gn 3.15). Repare que Jacó, em seu discurso a Judá, não diz que seus irmãos hão de louvar a Deus por ele, mas a ele; o próprio Judá será objeto de louvor. Meio doido, né? Isto é realmente surpreendente, até porque Judá realmente não se destacou como líder, e nada se falava de um governo de Judá até o reinado de Davi (quase 1000 anos depois). “Os filhos de teu pai se inclinarão a ti”. A palavra usada aqui no texto significa prostrar-se diante de um superior. Em contexto de culto, o termo significa adorar. Jacó usou o termo para indicar submissão a um governante, um monarca. Portanto, Judá, e não José (que era o filho amado), foi colocado diante dos irmãos como a tribo governante. Muito antes do ministério de Cristo sobre a terra, os sábios de Israel já haviam entendido: esse texto apontava para o Messias, o descendente de Judá. Para expressar a preeminência e o poder de Judá, Jacó o chama de “gür” que é o filhote de leão, e depois de ’aryêh que é o leão adulto. A imagem é de um animal jovem, que vai se desenvolvendo até tornar-se grande e poderoso.
“o cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de sua descendência, até que venha Siló, aquele a quem o cetro pertence, e a Ele obedeçam todos os povos da terra!” (Gênesis 49:10)
Existe uma discussão sobre o que Jacó quis dizer quando ele menciona a palavra Siló, mas resumindo, há um acordo majoritário entre os estudiosos que o termo hebraico Silõh não se refere a um lugar. Existe uma antiga tradução em aramaico que traduz esse termo como “até que venha o Messias”, o que parece concordar muito bem com o contexto, e também está em harmonia com a mensagem de Ezequiel (Ez 21.23-27). Há um elemento de extravagância na figura do jumento e seu jumentinho, um animal de carga que representam um estilo de vida humilde, tendo permissão de comer as videiras, que seria a conseqüência natural de serem amarrados a elas. Em outras palavras, o reinado do Messias seria próspero. O jumento no oriente antigo era visto como um animal pequeno, mas com muita força. Assim é a chegada do reino de Deus, sem visivel aparência, mas é extremamente poderoso. É interessante que a expressão “jumentinho… filho da jumenta”, é mais tarde usada pelo profeta Zacarias para retratar a entrada do Cristo em Jerusalém (Zc 9:9). A lavagem das vestes "em vinho" (49.11b), remete ao pisar das uvas no lagar e o esguichar do suco vermelho nas roupas são símbolos de trabalho penoso, luta, sofrimento e até morte (como a de um dos dois príncipes midianitas num lagar [Jz 7.25]); algumas vezes o lagar que Deus pisa "sozinho" (Is63.3) é um símbolo da ira de Deus (Ap 14.19,20; 19.15). O trecho que menciona vermelhidão dos olhos pode estar falando de prosperidade misturada com labuta e sofrimento. O uso de leite (v12) indubitavelmente sugere boa saúde e bem-estar geral. Em resumo, pode-se dizer que Jacó prevê grande prosperidade para Judá e seu sucessor real, que será compartilhada por todos sob o seu governo. No entanto, também pode haver uma alusão à luta, sofrimento e derramamento de sangue; uma prosperidade que não vem sem custo. Sobre a benção de José, Jacó diz que José é ramo frutifero e que seus galhos se estendiam sobre o muro. No capítulo anterior, em Gênesis 48, expliquei melhor como a benção de Efraim derrubou pela cruz o muro de separação. E talvez assim, possamos entender porque Jacó diz que as bençãos sobre José seriam tão maiores“até os montes eternos”, que as bençãos de Abraão, Isaque e Jacó. Ao falar de Dã, do futuro da tribo e as guerras que ela enfrentaria, Jacó parece pegar alguma simbologia emprestado de Gn3.15: “serpente…víbora…morde o calcanhar”. E na sequência ele interrompe a profecia e faz uma breve oração “A tua salvação espero, ó Senhor”. Em hebraico, esse texto é ainda mais bonito, pois diz: “O teu YESHUA espero, ó DEUS (YHWH)”. E Yeshua é Jesus em hebraico. Qualquer pessoa que ler as bençãos de Jacó, tem a sensação que Judá e José tiveram preeminencia e destaque, mas o verdadeiro destaque no texto é para o mais excelente de todos, o primogênito que abriu mão do seu direito de primogênitura pelos irmãos mais novos, o que se fez maldito para nos resgatar, o descendente de Judá que seus irmãos louvarão e cujo governo do seu cetro será eterno, aquele que lava as nossas roupas no seu próprio sangue, aquele que habitou “na praia dos mares” de Zebulom, que teve humildade e disposição para carregar as cargas de Issacar, aquele Salvador que Dã esperou, o Filho de Deus que expulsou a tropa de demônios que acometia o homem de Gade (Mc 5:1-20), o pão da vida abundante de Aser que produz delícias reais, aquele que como uma gazela (Cânticos 2:8-9) veio pelos montes de Naftali e lá pregou as mais belas e impactantes palavras das escrituras sagradas (Mt 5-7), o ramo frutifero de Jessé que estendeu seus galhos sobre o muro e rompeu a divisão que nos separava de Deus, ele que foi ferido, mas o seu arco permanece firme. Sim, o Poderoso de Jacó, o Pastor e a Pedra de Israel. Sim, Jesus Cristo é a herança e a verdadeira benção de Israel.
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