segunda-feira, 13 de abril de 2015

Brasileiros trocam destinos de intercâmbio para driblar alta do dólar

 
A intensa valorização do dólar americano nos últimos meses está fazendo os brasileiros interessados em aprender inglês no exterior procurarem alternativas aos Estados Unidos como local de destino. África do Sul, Nova Zelândia, Irlanda, Canadá, Austrália e Ilha de Malta, no sul da Itália, estão entre os países redescobertos pelos estudantes devido ao câmbio e ao custo de vida mais econômico.
Natalia Secchin, 22 anos, mora e estuda no Espírito Santo e queria aproveitar parte de suas férias de julho para ir a Nova York, nos EUA. Em meio aos planejamentos de sua primeira viagem internacional, a aluna do quinto ano de engenharia química se deparou com passagens e estadias caras.
— Acabei percebendo que pagaria praticamente a mesma coisa para ir à Europa. Depois, vi que fazer um intercâmbio de um mês lá sairia pelo mesmo preço de fazer uma viagem de duas semanas (aos EUA).
A cogitou propostas de escolas em outros países, como Canadá e Inglaterra. Nada ficou mais em conta do que um mês de aulas, com hospedagem e uso livre de espaços de lazer na Ilha de Malta, por 1.045 euros (R$ 3.574).
— Vi o preço baixo do intercâmbio, mas não conhecia Malta. Daí passei a fazer pesquisas na internet e descobri que lá é uma colônia britânica, que tem o inglês como segunda língua oficial. Fiquei apaixonada pelas fotos das praias e pelo fato de ficar perto da Itália, que é o país de onde a minha família veio. Vou poder ir visitar outros países da Europa, devido à proximidade.

Novos roteiros velhos
A empresa de educação internacional EF Education First, com sede em São Paulo, ranqueou os países mais procurados pelos estudantes para aprender ou aperfeiçoar o inglês. No primeiro trimestre deste ano, as nações e cidades mais procuradas foram Malta, África do Sul (Cidade do Cabo), Canadá (Toronto), Inglaterra (Bristol) e Estados Unidos (Chicago), nessa ordem.
Já no primeiro semestre de 2014, os locais mais procurados haviam sido Canadá (Vancouver), Estados Unidos (Nova York), Estados Unidos (Chicago), Austrália (Sidney) e Inglaterra (Londres).
O diretor de relações institucionais da empresa, Luciano Timm, explicou a mudança.
— As pessoas passaram a redescobrir Malta, porque esse é um destino europeu de língua inglesa que opera com uma moeda [euro] que valorizou em 8%, frente aos 20% do dólar americano [...] O país já foi de grande interesse dos intercambistas brasileiros em 2008, quando o real também sofreu uma desvalorização.
Já a diretora de relações institucionais da Belta (Associação das Agências de Intercâmbio), Neila Chammas, destaca o aumento da procura por intercâmbio na Nova Zelândia e na África do Sul como alternativas aos Estados Unidos.
Ela também diz que o interesse pelas viagens de estudos para o Canadá e para a Irlanda continua porque os países permitem que os intercambistas trabalhem como parte do curso.
— Quem tinha planos de estudar em escolas específicas dos Estados Unidos não está deixando de fazer isso por causa do dólar. O que estão fazendo é reduzir a duração do programa de intercâmbio ou buscando locais de moradia mais baratos. Mas aqueles que são mais preocupados com o preço estão optando por países mais baratos mesmo.
Para Fabiana Fernandes, gerente de produtos da Ci Central de Intercâmbios, a menor oscilação no câmbio dos dólares do Canadá, Austrália e Nova Zelândia é que tem feito os brasileiros escolherem por esses países para estudar inglês.
— Algumas escolas aproveitam essas mudanças de câmbio para oferecer descontos com base nas diferenças de valor entre as moedas. Isso também acaba atraindo.
No Brasil, as agências também estão aproveitando para fazer promoções.  A EF Education fecha os pacotes considerando o dólar a R$ 2,99, em épocas de cotação acima disso.

Canadá
Dados da pesquisa “Mercado de Educação Internacional e Intercâmbio do Brasil”, divulgada pela Belta em 2013, mostram que, naquele ano, mais de 200 mil brasileiros fizeram intercâmbio, gerando uma movimentação de US$ 1,181 bilhões (R$ 3,758 bilhões) entre as empresas do setor.
Segundo 91% das empresas pesquisadas, o Canadá é o destino mais procurado para os cursos, seguido dos EUA, Reino Unido, Irlanda, Austrália, Espanha e Nova Zelândia.
Confirmando as tendências mostradas pelo percentual e em meio à alta do dólar americano, a Ci registrou que a procura por intercâmbio para o Canadá, aumentou de 30% para 40%, comparando os primeiros semestres de 2015 e 2014.
Já o interesse pelos EUA caiu de 33% para 24% e, pelo Reino Unido, desceu de 15% para 12%. A procura por intercâmbio na Irlanda aumentou de 4% para 7%.

Além do dólar
Na avaliação de Neila, da Belta, o interesse pelo Canadá tem relação com qualidade de vida e dos cursos oferecidos no país.
— O custo benefício dos cursos de lá é muito bom, bem como a qualidade e preço das escolas e a receptividade das famílias que acolhem os estudantes.
 Além da alta do dólar americano, a especialista avalia outras variáveis que fazem os intercâmbios nos Estados Unidos serem mais caros.
— Os brasileiros escolhem estudar em cidades que têm o custo de vida alto e são muito turísticas, como Nova York, São Francisco, Chicago e Los Angeles. O pacote do curso fica mais alto, porque a escola acompanha os preços locais das cidades. Cidades mais atrativas e visitadas vão ser mais caras mesmo.
Caso o estudante realmente queira ir para os EUA, a orientação é que sejam escolhidos locais de intercâmbio onde o custo de vida é mais barato, como Madison, no Estado de Wisconsin.
— Seattle e Portland, no Estado de Oregon, são cidades onde não se cobram impostos altos, então o estudante economiza no dia a dia por conta disso. Mas os brasileiros sempre gostam de ir para os mesmos lugares.
Considerar o custo de vida na cidade escolhida é essencial para o aproveitamento integral do intercâmbio. Luciano Timm, da EF Education First, lembra que o aprendizado de outra língua no exterior não se faz apenas por meio das aulas e da conversação.
— O aluno brasileiro aproveita o que há de diferencial em um intercâmbio, que é convier, interagir e viver o idioma onde ele está, no dia a dia, nos diferentes lugares do país. Então, o preço das atividades cotidianas e de turismo que serão feitas deve ser levado em conta.

Via R7

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