A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e a
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo inauguraram, no dia
26 de novembro, o Instituto de Pesquisa da Santa Casa.
O prédio, localizado no centro de São Paulo, tem seis andares, dos
quais três são constituídos por laboratórios de última geração em
cultura de células, virologia, histologia e bioinformática, construídos e
compostos por equipamentos adquiridos em grande parte com apoio da
FAPESP.
Um dos objetivos do novo instituto é centralizar as pesquisas
realizadas em quase todas as áreas clínicas e cirúrgicas por médicos
assistencialistas, professores e estudantes de pós-graduação em
laboratórios distribuídos pelos diversos departamentos do Hospital
Central e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa. Com isso, se
espera aumentar a colaboração entre os pesquisadores da instituição e
otimizar os recursos para realização de projetos de pesquisa.
“A Santa Casa conta com diversos pesquisadores que atuam de forma
pulverizada na instituição. A abertura da sede do Instituto de Pesquisa
irá possibilitar condensá-los em um único local, onde poderão se
encontrar e discutir de forma mais intensiva sobre colaborações em
projetos de pesquisa”, disse Carlos Alberto Longui, coordenador
científico do Instituto de Pesquisa da Santa Casa de São Paulo, à
Agência FAPESP.
De acordo com Longui, o Instituto de Pesquisa também deverá
possibilitar atrair pesquisadores do Brasil e do exterior que desejem
realizar suas pesquisas clínicas e básicas na instituição.
Fundada por volta de 1560, a Santa Casa administra o maior hospital
filantrópico da América Latina, no qual são atendidos cerca de 8 mil
pacientes por dia, muitos do quais portadores de doenças raras que
poderão participar de estudos clínicos.
“O Instituto de Pesquisa da Santa Casa deverá despertar o interesse
de pesquisadores interessados em estudar doenças raras e que precisam de
uma instituição de grande porte para ter a casuística (comparação)
necessária para realizar suas pesquisas”, estimou Longui.
Segundo ele, com a inauguração do Instituto de Pesquisa, a
expectativa é aumentar em, no mínimo, entre 15% a 20% o número de
pesquisas realizadas na instituição em 2013 em comparação com 2012.
Os pesquisadores, médicos assistencialistas e alunos de pós-graduação
que tiverem interesse em realizar pesquisas no Instituto deverão
apresentar seus projetos para uma coordenadoria científica, que irá
alocá-los entre os diferentes setores da instituição.
INCT do HPV
Inicialmente, o Instituto de Pesquisa da Santa Casa abrigará um núcleo
metodológico – criado com o objetivo de desenvolver e centralizar os
métodos de pesquisa mais utilizados nos projetos realizados na
instituição -, além do Instituto de Pesquisa Clínica e o Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia das Doenças do Papilomavírus Humano
(Instituto do HPV).
Um dos INCTs financiados pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Estado de São Paulo, o
Instituto do HPV desenvolve pesquisas, forma recursos humanos e realiza
ações de prevenção e de tratamento de infecções e tumores causados pelo
vírus HPV, principal causador do câncer de colo de útero e de outros
tumores que causam o óbito de cerca de 7 mil mulheres por ano no Brasil.
Fundado em 2009, o INCT-HPV estava abrigado na filial brasileira do
Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, sediado no Hospital Alemão
Oswaldo Cruz, em São Paulo. Com o encerramento das atividades do
Instituto Ludwig no Brasil, os equipamentos dos laboratórios do INCT
foram distribuídos por algumas instituições de pesquisa no Estado de São
Paulo, como no Centro de Investigação Translacional em Oncologia do
Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Com a inauguração do Instituto de Pesquisa da Santa Casa, parte dos
equipamentos foi doada e fará parte dos laboratórios da instituição
voltados, entre outras finalidades, para realização de testes
moleculares, cultivo celular, sequenciamento, análises de células,
fluidos humanos e até mesmo de tumores.
“Agora, teremos mais espaço para realizar pesquisas de ponta que
conduzimos há décadas”, disse Luisa Lina Villa, coordenadora do
INCT-HPV.
Segundo Villa, após terem desenvolvido nos últimos anos uma série de
estudos epidemiológicos para conhecer melhor o histórico de infecções e
doenças causadas por HPV em mulheres, os pesquisadores do INCT-HPV
realizam no Centro de Referência e Tratamento (CRT) de DSTs/Aids, em São
Paulo, com apoio dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em
inglês), dos Estados Unidos, um estudo semelhante, com a participação de
4,5 mil homens.
Com base nas comparações entre os históricos de infecções causadas
pelo HPV nos dois sexos, os pesquisadores concluíram que eles não
escolhem gênero e, apesar de causarem tumores em maior proporção em
mulheres, também afetam os homens.
“As iniciativas terapêuticas e de prevenção, que visam em primeiro
lugar as mulheres, porque elas padecem mais das doenças causadas por
HPV, também devem incluir os homens”, disse Villa.
De acordo com a pesquisadora, o Brasil possui uma importante
participação nos estudos para validação de vacinas para proteção dos
principais tipos de HPV, que já foram aprovadas no país para mulheres e
se discute sua introdução no plano nacional de imunização tendo em vista
que surgem 20 mil novos casos de câncer de útero no país por ano, que
causam a morte de mais de 7 mil mulheres.
A escolha do Brasil para testar essas vacinas, na opinião dela,
deve-se à qualidade das pesquisas realizadas no país na área. “Foram as
pesquisas feitas no país que nos colocaram no cenário para testar essas
vacinas. No Estado de São Paulo, principalmente pela contribuição da
FAPESP, estão algumas da melhores instituições do mundo em pesquisa
sobre HPV”, destacou.
Por Elton Alisson, da Agência FAPESP.