sábado, 15 de fevereiro de 2020

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A revelação de Jesus Cristo em Gênesis 2 (Parte 2): A criação do homem

Após o sábado de descanso no capítulo 2 de Gênesis, a narrativa passa a descrever (aqui com mais riqueza de detalhes do que no capítulo 1 como foi a criação do primeiro homem, Adão. Mas gostaria de relembrar um pouco do capítulo 1, quando encontramos esse texto:

Então disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão". (Gênesis 1:26)

Eis aí uma evidência muito clara da existência da trindade. Esse texto não foi entregue ao mundo pela mãos de cristãos, mas pelas mãos de judeus. Deveria o leitor ateu ou cético perguntar-se com quem Deus estava falando. Porque parece-se tanto com o conceito cristão de um Deus único e multifacetado (Pai, Filho e Espírito Santo) do que com o conceito judaico de um Deus único e monofacetado. Mesmo nas traduções bíblicas usadas nas sinagogas, o texto diz no plural “Façamos o Homem à Nossa imagem, à Nossa semelhança”. Quem senão o Messias ou o Espírito Santo poderiam estar nesse diálogo com Deus-Pai? Fica claro que essa outra pessoa já possui tais atributos iguais ao do Deus Criador, e que ambos iguais querem comunicar de maneira parecida (ou semelhante) tais atributos ao homem.

A ortodoxia judaica responde a isso dizendo que Deus estava conversando com as coisas que ele havia criado. Segundo o entendimento judaico seria como se Deus dissesse "Que o universo (e tudo que existe nele) e Eu produzamos o homem". Tenho sérias dificuldades de achar plausível esse argumento, porque o mesmo judeu não diria que o homem possui a imagem e semelhança de um rato, ou que uma ameba tem a imagem e semelhança do Deus Eterno. Mas eles dizem sem medo isso em relação ao homem e Deus. Também acho complicado o entendimento judaico-não messiânico (dos judeus que não acreditam em Jesus como Messias), porque é razoável pensar que “Façamos”, implica em algo mais próximo da cena de Deus chamando alguém e dizendo “vem fazer comigo”, e não algo do tipo: “ok sr. Rato, fique aí roendo essa árvore enquanto vou ali sozinho fazer o homem”. Repare que no verso seguinte diz:

“Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1:27)

O texto não diz “à imagem de Deus com uma estrela“, ou “misturado com um rato” ou “à imagem de Deus com uma ameba”, ou nem mesmo “à imagem de Deus com anjos”… mas apenas “à imagem de Deus o criou”.
Fica ainda mais evidente que Deus estava falando com outra pessoa ou outras pessoas, que decidem juntos fazer o homem semelhante a Deus e essa(s) outra(s) pessoa(s), e no final das contas o resultado é que o homem sai a imagem de Deus. Essa outra pessoa ou outras pessoas precisam ser Deus também. Repare nesse texto:

“Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós” (Gênesis 3:22)

Novamente, com quem mais Deus poderia dizer isso? No capítulo 3 de Gênesis, veremos a queda e a entrada do pecado no mundo quando o homem quis ser igual a Deus. E Deus, possivelmente de modo irônico, diz essa frase “Eis que o homem é como um de nós”. Não faria sentido no contexto, se Deus emitisse essa frase para alguém que estivesse fora da Divindade.

Amold Williams, An Account ofthe Commentaries on Genesis (Chapei Hiil: University of North Carolina Press, 1948), escreve que: "A imagem de Deus no homem consiste em seu domínio sobre as outras criaturas, um domínio completo antes da queda, parcial desde a queda...”. Neste sentido, como diz Pedro Mártis, o homem é o "Vigário de Deus" (o representante de Deus) para as criaturas inferiores. Ou seja, o homem é aquele que representa Deus diante do restante da criação.

Andrew Fuller, na obra Expository Discourses on the Book of Genesis (Londres: Thomas Tegg & Son, 1836) afirma: "O homem havia de ser o senhor do mundo inferior, sob o grande Supremo. Dele dependeria seu futuro bem-estar. O ser humano seria um elo distinto na cadeia do ser, unindo o mundo animal ao mundo espiritual, a fragilidade do pó da terra ao sopro do Todo-Poderoso; e possuindo a consciência do certo e do errado que o tomaria o súdito peculiar do governo moral" (p. 8).

Em hebraico a palavra usada semelhança é Demut (reprodução abstrata, de valores, atributos e virtudes) e para imagem é “tzelem” (imagem, cópia real, xerox). Quanto ao Demut parece bem ok, mas se Deus é espírito, como fazer um “tzelem” Dele? Seria Jesus o molde usado para formar Adão? São perguntas que ainda me parecem difíceis de "bater o martelo".

Mas é interessante que esse Adão possua aspectos da fragilidade humana, feito aparentemente de algo não muito honroso como o pó da terra, mas ao mesmo tempo contrastando com a magnitude e honra do sopro divino e da posterior atribuição para ser o zelador e mordomo da criação, a quem Deus conferiu o domínio sobre as coisas criadas. Adão aqui parece já anunciar a natureza do Deus-Filho, que possui a natureza divina e também o seu aspecto humano, o ilimitado coexistindo perfeitamente com o limitado, Glória e pó. Adão representa a Cristo também quanto ao seu governo. Jesus é o Adão perfeito, é Aquele que governa toda a criação de Deus de maneira perfeita, inerrante, sem excessos, sem pecado. 
Nesse sentido também, Adão aparece como um tipo de mediador entre Deus e sua criação (isto é, ser o porta-voz de Deus ao mundo e do mundo a Deus), o que nos aponta inevitavelmente para Jesus Cristo, que é o verdadeiro e perfeito Mediador entre Deus e os homens:

“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” (1 Timóteo 2:5)

De acordo com John J. Davies, na obra “Paradise to Prison Studies in Genesis” (Grand Rapids: Baker, 1975), afirma que “O domínio de que o homem gozou no jardim do Éden foi uma conseqüência direta da imagem de Deus nele. O termo subjugar implica certo grau de soberania, controle e direção sobre a natureza. O chamado a governar é um chamado a criar civilização e regular as forças naturais." (ibid., p. 81).

Adão representa Deus diante da criação, e posteriormente diante de Eva também. Assim parece que Adão foi o primeiro homem do pacto de Deus e o seu primeiro mediador. 

“As Escrituras nos dizem: “O primeiro homem, Adão, se tornou ser vivo”. Mas o último Adão é espírito que dá vida.” (1 Coríntios 15:45)

Não é maravilhoso isso? 😊



Obs: Mesmo na tradição oral judaica, existem alguns trechos que seriam muito interessantes para reforçar a minha argumentação diante de um leitor judeu, de que Adão parecia-se e apontava para o Messias, mas como não temos garantia nenhuma de que a tradição oral foi inspirada por Deus (diferentemente da Torá) e uma vez que muitos rabinos (creio que a maioria) concordam que existem muitas fábulas e histórias fantasiosas na tradição oral, decidi não trazer esse elemento para essa discussão. Afim de evitarmos erros, vamos nos concentrar no que é certeza absoluta. E como proclamaram os reformadores protestantes “Somente a Escritura!”.

*Clique aqui para conhecer a revelação de Jesus em outros capítulos da Bíblia

domingo, 2 de fevereiro de 2020

CRISTO, LOGO EXISTO: Jesus em cada capitulo do Antigo Testamento

O que as histórias do Antigo Testamento tem em comum? Qual o objetivo central dessas histórias? O que une essas histórias de modo que elas estejam compiladas no mesmo livro?


A Bíblia apresenta um terrível dilema: "Como um Deus justo pode perdoar pecadores e continuar sendo justo?". Um Deus justo precisa punir pecadores, se ele não punir Ele não é justo. Ainda mais se for um Deus infinitamente Justo. Talvez você diga, mas "Deus não vai me mandar pro inferno, Deus é bom". Esse é justamente o problema. Pense: O que um Deus infinitamente bom, faz com quem não é bom? Ok, vamos colocar de outra forma: o que um bom Juiz ou um bom policial fazem com infratores da lei? Um bom Juiz ou ou um bom policial não pode deixar um criminoso impune, do mesmo modo um Deus bom não pode simplesmente varrer nossos pecados e falhas pra debaixo do tapete, Ele precisa punir quem não é bom. E ao longo da narrativa bíblica, Deus vai expondo suas leis mostrando o nível exigido da sua Santidade, e isso vai inevitavelmente empurrando toda a humanidade pro abismo. Ninguém foi bom o suficiente.

Mas há uma boa noticia: O Deus Justo também é um Deus de amor e misericórdia, e haja visto nossa incapacidade de resolver o problema que geramos, Deus promete resolver por si mesmo, enviando um Salvador, o Messias. E esse Messias vai ganhando centralidade da história, mais detalhes vão sendo dados aqui e ali sobre esse Messias. O sacrifício de Jesus Cristo foi a forma com a qual Deus pode perdoar pecadores sem abrir mão da sua perfeita justiça.
A narrativa vai se desenrolando progressivamente para apresentar a história da redenção centralizada em Jesus, o Messias esperado. E cada micro-história reflete e reconta de diferentes formas a macro-história, é realmente impressionante. A Bíblia são 66 livros, escritos por 42 autores, que viveram em épocas diferentes, falando idiomas diferentes (hebraico, aramaico e grego),  usando gêneros literários diferentes (poemas, cartas, narrativa..), que viveram contextos sociais, geográficos, culturais e econômicos completamente distintos e de modo independente produziram escritos a partir de revelações de Deus que apontam para a mesma pessoa; Jesus Cristo. Certamente, isso já seria o suficiente pra dizer que estamos diante da maior construção literária da história humana. 
Embora não seja o objetivo deste material fazer uma defesa da fé cristã, acho improvável um leitor descrente e totalmente sincero na sua descrença, ler e continuar descrente.

ALERTA DE SPOILER!
Alguns spoilers do que você vai encontrar nos comentários:
O profeta Daniel diz até o ano que o Messias ia nascer (420 anos depois do decreto de Ciro).
Isaias diz que o Messias nasceria de uma virgem, e esse frágil bebê seria o "Deus Forte".
Jeremias descreve um assassinato em massa de bebês na época do nascimento do Messias.
Isaias diz que ele seria morto no meio de dois ladrões.
Miquéias diz que o Messias nasceria em Belém. 
Zacarias diz que o Messias entraria em Jerusalém montado em jumento, Ezequiel diz que depois disso a porta seria fechada porque Deus passou ali.
Davi diz que quando crucificado, ele sentiria sede e lhe dariam vinagre numa esponja.
Salomão diz que ele era o Filho de Deus, oriundo da eternidade.
 
Impressiona um pouco, né? Agora imagina profecias muito especificas espalhadas em cada parte do Antigo Testamento e que encaixam perfeitamente na pessoa de Jesus.

Decidi compartilhar um pouco dos estudos que tenho feito para meu próprio aprendizado, e de alguma forma, quem sabe, abençoar algumas pessoas com um material que não achei disponível para além de textos muito acadêmicos e formais (e geralmente em inglês). Pensei em algo mais simples, prático e pessoal (e grátis), que fosse edificante para mim e para quem viesse a ler posteriormente. Que o Senhor Jesus me ajude a ser fiel e não me permita cometer erros. 

Uma observação óbvia, mas relevante: Eu sou falho. Embora a Bíblia seja a uma revelação infalível da parte de Deus, a minha interpretação dela pode ser falível. Portanto, sou sempre muito grato por todas as correções e criticas que recebo. Estou 100% aberto a sugestões, criticas e principalmente as correções. Não sou teólogo, nem pastor, e até acho positivo num certo sentido... mostra que não precisa ter o "fogo de Prometeu", ou ser um ser um mega-especialista... as profecias bíblicas são tão claras e óbvias que, na maioria das vezes, até mesmo eu um idiota pode entender (Is 35:8).

Apesar deste mensageiro ser imperfeito (e muito..rsrs), a mensagem é perfeita: Conforme foi anunciado milênios antes por todos os profetas, Jesus Cristo sendo Deus encarnou em  forma humana, e recebeu sobre si mesmo a punição que nós merecíamos de Deus-Pai. "Contudo foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer" (Isaías 53:10). Todo sofrimento que estava reservado no inferno para mim e para você por toda a eternidade, foi despejado de uma só vez sobre Jesus. Deus assassinou Seu Filho debaixo de toda sua ira, para que assim a divida dos nossos pecados pudesse ser paga, e a justiça do Deus infinitamente Santo fosse satisfeita. Agora Cristo se torna o Salvador pois no seu sacrifício existe poder para salvar a quem Ele quiser salvar. De modo que hoje, para todo aquele que se arrepender dos seus pecados, e confiar em Jesus, Deus pode aplicar sobre este pecador os méritos do sacrifício de Jesus. Portanto, se nos arrependemos e cremos em Jesus, já passamos pelo juízo de Deus, ele aconteceu na cruz.

Caro leitor, espero que o Espirito Santo te revele Jesus por meio dessas leituras, e faça no seu coração muito além do que minhas meras palavras podem fazer.

Por enquanto, o que temos disponível para leitura:

Livro de Gênesis:

Capítulo 1 (A criação)
Capítulo 2 (
Parte 1: O sétimo dia)
Capítulo 2 (Parte 2: A criação do homem)
Capítulo 2 (Parte 3: O primeiro casamento)
Capítulo 3 (A Árvore da Vida e a primeira morte)
Capítulo 4 (O Sangue que clama)
Capítulo 5 (A linhagem do Rei)
Capítulo 6 (O Noé de Noé)
Capítulo 7 (A Arca de Noé e o batismo nas águas do Dilúvio)
Capítulo 8 (Saindo da Arca)
Capítulo 9 (Parte 1: Um Arco no céu)
Capítulo 9 (Parte 2: A Profecia de Noé)
Capítulo 10 (O Rei das Nações)
Capítulo 11 (A Torre de Babel)
Capítulo 12 (A bênção de Abraão)
Capítulo 13 (O Peregrino)
Capítulo 14 (Nosso Melquisedeque)
Capítulo 15 (Contrato de Sangue)
Capítulo 16 (O Deus que me vê)
Capítulo 17 (A Circuncisão)
Capítulo 18 (Deus em Carne e Osso)
Capítulo 19 (Sodoma e Gomorra)
Capítulo 20 (The Middle Office)
Capítulo 21 (O Filho Prometido)
Capítulo 22 (A entrega do Filho)
Capítulo 23 (Um lugar para cair morto)
Capítulo 24 (Casamento à Distância)
Capítulo 25 (The Chosen)
Capítulo 26 (A História Recontada)
Capítulo 27 (#SomosTodosVilões)
Capítulo 28 (A escada até Deus)
Capítulo 29 (Lia, a mulher desprezada)
Capítulo 30 (As 12 tribos de Israel)
Capítulo 31 (A Grande Reversão)
Capítulo 32 ( Jacó luta com Jesus)
Capítulo 33 (Eram 100 moedas)
Capítulo 34 (Cavalo de Troia)
Capítulo 35 (O Deus da Casa de Deus)
Capítulo 36 (O Niilista Pré-Moderno)
Capítulo 37 (José do Egito)
Capítulo 38 (O Messias não tem pedigree)
Capítulo 39 (Messias Filho do Zé)
Capítulo 40 (Entre cárceres e cruzes)
Capítulo 41 (A metáfora da Ressurreição)
Capítulo 42 (Todas as famílias da Terra)
Capítulo 43 (O Fiador)
Capítulo 44 (O Cálice de Prata)
Capítulo 45 ("Eu sou Jesus")
Capítulo 46 (A incubadora Egípcia)
Capítulo 47 (Um José melhor)
Capítulo 48 (Efraim e o Mistério de Cristo)
Capítulo 49 (A Herança de Israel)
Capítulo 50 (O Clímax da Graça)



Livro de Isaías:




Livro de Ezequiel:



18:27 - 1 comment

A revelação de Jesus Cristo em Gênesis 2 (Parte 1): O sétimo dia






“No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação.” (Gênesis 2:2,3)

O sétimo dia será um dos temas que voltaremos muitas vezes ao longo deste livro. O sétimo dia, que em português chamamos “sábado”, é referenciado na Bíblia pela palavra hebraica shabat (שבת), que significa "descansar, parar ou deixar de trabalhar".
O que vemos no trecho acima foi que após criar os céus e a terra em seis dias, Deus descansou nesse dia de toda o trabalho que realizou. Mesmo para os judeus, isso não significa que Deus estava cansado e precisava de um descanso. Afinal conforme anuncia a própria escritura, o Deus Eterno não se cansa:

“Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga? É inescrutável o seu entendimento.” (Isaías 40:28)

O Deus que a Bíblia descreve é onipotente, e possui todo o poder. Seria razoável segundo os nossos parâmetros humanos imaginar que poderia representar um árduo gasto de energia ou algo assim, mas para o Deus da Bíblia não representa nada toda a criação, não diminui de modo algum o seu infinito poder, nem o faz cansado, nada poderia ser tão grande ao ponto de deixá-lo exausto. Aqui vemos uma das vezes que alguma ação/ato de  Deus é descrita de maneira humana para facilitar nosso entendimento.
Sendo assim, o que significa que Deus descansou no sétimo dia? O que Deus queria sinalizar para a humanidade com o seu descanso simbólico e o estabelecimento do Sábado do descanso? Deus simplesmente parou todo o trabalho que estava fazendo. Deus usou o próprio exemplo do seu “descanso” no sétimo dia da Criação para estabelecer o princípio do descanso sabático.
Leia com atenção o texto a seguir:

“Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; por isso o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de sábado.” (Deuteronômio 5:15)
Talvez você se pergunte “Sendo um princípio estabelecido desde a Criação, o que tem o Êxodo a ver com o descanso no sétimo dia?”. O Êxodo trata-se de liberdade. Imagine nos tempos antigos, o lazer estava destinado apenas para a alta classe; escravos não tinham dias de descanso. Assim, ao descansar no Shabat, o povo era lembrado de que eram livres. Assim como os judeus poderiam descansar porque Deus os fez livres dos poderes dos egípcios, também do mesmo modo nós podemos descansar porque fomos libertos por Cristo da escravidão do pecado e dos poderes das trevas.
Num certo sentido, o Shabat liberta das preocupações cotidianas da semana, os prazos e horários apertados e daquela lista imensa de compromissos. Durante a semana, mesmo vivendo em sociedades livres, somos escravos de nossos empregos, de nossos clientes, e da necessidade de prover por nós mesmos. O princípio por trás da observância do Shabat, era ser libertos destas ocupações, preocupações e trabalhos. Os benefícios do descanso são óbvios para a mente e para o corpo, mas ao longo do antigo testamento Deus parece atribuir mais do que um sentido psicológico ou terapêutico ao Sábado, ele tinha sobretudo um sentido espiritual. A pessoa que violasse a lei do sábado era punida com a morte (Êxodo 31:15), logo não se trata de uma sugestão apenas psicoterapêutica, tem que haver um sentido mais profundo.

Com a revelação da Lei de Deus e dos juízos santíssimos Dele, diante de padrões de justiça tão elevados, os judeus começaram a tentar justificar-se através de suas próprias obras, tentando ser pessoas boas ou melhores para assim alcançar o favor de Deus. Semelhante a uma conta corrente no banco, onde se contabiliza os créditos e débitos e procura-se ficar no positivo, ou seja, tenta-se ser bom o suficiente para ser aceito. Essa é uma prática tão humana que acontece em todas as religiões existentes, uma prática que provavelmente todo mundo já se pegou praticando em algum nível. Apesar de todo trabalho e esforço, nunca era suficiente. Os padrões morais de Deus são muito altos, e os nossos muito baixos. Mesmo entre o povo de Deus, eles nunca foram bons o bastante. Israel sempre estava derrapando, caindo em pecados, se corrompendo, idolatrando, não podiam manter todas essas leis, por isso Deus providenciou ofertas e sacrifícios pelo pecado para que pudessem se reconciliar com Deus a fim de obterem perdão e restaurar temporariamente a comunhão.
Não apenas dos judeus daquele tempo, mas até os dias de hoje nossa tendência é sempre trabalhar para alcançar o céu com nosso próprio mérito. Até que uma hora, depois de tanto patinar, percebemos que ainda somos os mesmos pecadores e depois de todo o esforço nossos corações continuam longe de Deus, continuamos sendo egoístas apesar de toda caridade, continuamos sendo pervertidos por baixo de toda capa de religiosidade, finalmente cansamos de brincar de pessoas boas. Nesse momento, podemos encontrar descanso para nossas almas no trabalho de Jesus. Jesus é o nosso descanso final. Jesus é o verdadeiro sábado. Na verdade, Jesus é o que o sábado simbolizava. Jesus é a única fuga para a condenação e a morte eterna (por isso que quem descumpria o sábado, enquanto um símbolo de Jesus, recebia a condenação). Jesus é o descanso daqueles que perceberam que só poderiam entrar no céu pelo mérito de outro, o descanso daqueles que na sinceridade interior perceberam o abismo que havia entre eles e Deus era intransponível, que somente Jesus (o Deus Eterno encarnado em forma humana) atenderia os critérios de Deus, e que jamais conseguiriam por si próprios serem bons o suficiente. Jesus é o descanso para aqueles que se perceberam merecedores do inferno e de toda condenação divina, daqueles que se percebem doentes e procuraram o médico. Enquanto não reconhecemos nossa doença, e não percebermos que não podemos contê-la com nossos meios, jamais procuraremos o médico. Jesus é esse médico que diz para o doente “Descanse de toda preocupação, você está nas minhas mãos agora. Eu sei exatamente como curar você.”

Depois de realizar o último sacrifício, Jesus sentou-se no trono do universo e "descansou", isto é, descansou de sua obra de expiação porque não havia mais nada a ser feito, nunca. Por causa do que Jesus fez, não temos mais que "trabalhar" para guardar a lei a fim de podermos ser justificados aos olhos de Deus. Jesus foi enviado para que possamos descansar em Deus e na salvação que Ele providenciou.
Os vários elementos do sábado que estudaremos em mais detalhes adiante, simbolizavam a vinda do Messias, o qual providenciou um descanso permanente para o seu povo. Assim podemos entender porque Deus diz por meio da lei e dos profetas que guardar o sábado é símbolo da Aliança de Deus e seu povo (Êxodo 31:13/Isaías 56), porque na verdade ele simboliza Jesus:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve [...] Porque eu, o Filho do Homem, sou Senhor do próprio sábado” (Mateus 11.28 - 12:7)

Em outro momento falaremos mais sobre a troca do sábado da criação pelo domingo da ressurreição que vem sendo adotado pela igreja cristã desde os tempos dos apóstolos e pais da igreja. Apesar dessa mudança, o princípio é o mesmo: seis dias são dados para o domínio do homem sobre a natureza, mas o sétimo dia é o Dia do Senhor.

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sábado, 1 de fevereiro de 2020

21:13 - No comments

A revelação de Jesus Cristo em Gênesis 1

“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente” (Romanos 11:36)




A ordem dos eventos narrados nos primeiros versos da Bíblia sobre a criação do mundo é no mínimo curiosa: Deus cria, depois aparecem trevas, na sequência vemos o mover do Espírito Santo e a palavra de Deus se manifesta, resultando no aparecimento da luz e na sequência surge nova vida. Isso lembra muito como o Novo Testamento descreve a obra de salvação em Jesus. Ao que tudo indica aprouve a Deus indicar desde os primeiros versos a sua obra de criação e redenção.

Na verdade, não apenas nos primeiros versos, mas inclusive na primeira palavra hebraica “Be-reshit” que significa “No Princípio”. A preposição "Be" pode significar "no", "por meio de" ou "para". A palavra "Reshit" pode significar "cabeça", "principio", "primeiro", "primogênito" ou "primazia".

Pelas palavras do apóstolo Paulo, em Romanos 11:36 e também em Colossenses 1:13, podemos entender que foi por meio de Cristo e para a glória de Cristo, que Deus fez todas as coisas:

Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é o primeiro de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, Colossenses 1:13-18

Paulo faz uma brincadeira com as preposições e definições de Be-reshit, para mostrar que quando a Bíblia diz que “no princípio criou Deus o céu e a terra”, o Principio não é sobre tempo, mas uma pessoa. Conforme o próprio Jesus declara a respeito de si mesmo “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim”. Portanto, “No Cristo” criou Deus os céus e a terra. O que faz eco para as palavras iniciais do Evangelho de João "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. [...] Todas as coisas foram feitas através dele, e, sem Ele, nada do que existe teria sido feito. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a venceram. A Palavra é a luz verdadeira que, vinda ao mundo, ilumina a toda a humanidade. Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito através dele, mas o mundo não o reconheceu. Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, ou seja, aos que crêem no seu Nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E a Palavra se fez carne e habitou entre nós."

O teólogo inglês Arthur W. Pink tem um comentário muito interessante a respeito de como Gênesis 1 se relaciona com Cristo, que passo a transcrever abaixo: 

Nas afirmações iniciais deste capítulo descobrimos, em símbolo, a grande necessidade de Redenção.” No início, Deus criou os céus e a terra”. Isto nos leva de volta à criação primeira a qual, como tudo que vem da mão de Deus, deve Ter sido perfeita, maravilhosa, gloriosa. Assim também foi a condição original do homem. Feito à imagem do Seu Criador, enriquecido com o sopro de Elohim, ele foi declarado como “muito bom”.

Mas as palavras seguintes apresentam um quadro muito diferente — “E a terra era sem forma e vazia”, ou, como no original Hebraico, poderia ser traduzido mais literalmente como : “A terra tornou-se um caos”. O pecado entrou no universo. [...] Os efeitos do seu pecado, do mesmo modo, atingiram muito mais do que a si mesmo — as gerações de uma humanidade ainda por nascer foi amaldiçoada como a conseqüência de seus primeiros pais.

“Havia trevas sobre a face do abismo”. Trevas são o oposto de luz. Deus é Luz. Trevas são o emblema de satanás. Essas palavras descrevem bem a condição natural da nossa raça caída. Judicialmente separada de Deus, moral e espiritualmente cega, experimentalmente escravos de satanás, uma terrível mortalha de trevas está colocada sobre a massa de uma humanidade não-regenerada. Mas isto somente preenche um pano de fundo negro sobre o qual podem ser colocadas as glórias da Graça Divina. “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”. O método desta “superabundância de graça” está simbolicamente delineado na obra de Deus durante os seis dias. No trabalho dos quatro primeiros dias, temos uma memorável prefiguração dos quatro grande estágios na obra de Redenção. Agora não podemos fazer muito mais do que chamar a atenção para os contornos deste maravilhoso quadro primitivo. Mas, à medida que dele nos aproximamos, para observá-lo em temor e admiração, possa o espírito de Deus selecionar as realizações de Cristo e mostrá-las a nós.

I. No trabalho do primeiro dia, a Encarnação Divina é, simbolicamente declarada.

Se homens caídos e cheios de pecado devem ser reconciliados com o Santo Deus Triuno, o que deve ser feito? Como pode ser transposto o infinito abismo que separa a Divindade da humanidade? Que escada poderá ser colocada aqui na terra para se chegar precisamente no céu? Só uma resposta é possível a essas perguntas. O passo inicial na obra da redenção humana deve ser a Encarnação da Divindade. Necessariamente, este deve ser o ponto de partida. O Verbo deve se tornar carne. O próprio Deus deve descer até o fundo do poço onde, desprotegidamente, se encontra a humanidade arruinada, se é que deve ser resgatada do barro grudento e transportada para lugares celestiais. O Filho de Deus deve assumir, em si mesmo, a forma de servo e ser feito em semelhança de homens. 

Isto é precisamente o que a obra do 1º dia tipifica na prefiguração do passo inicial da Obra de Redenção, também chamado de Encarnação do Divino Redentor. Observe, agora, 5 pontos:

Primeiro, há o trabalho do Espírito Santo. “O Espírito de Deus se movia (hebraico, 'chocava") sobre a face das águas” (v 2). Do mesmo modo foi a ordem seguida na Encarnação Divina. Em relação à mãe do Salvador lemos: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” Lc 1:35.

Segundo, a palavra se manifesta como Luz. “Disse (a palavra) Deus: Haja luz; e houve luz” (v3) . Do mesmo modo, quando Maria mostra a Santa Criança: “A glória do Senhor brilhou ao redor deles” Lc 2:9. E quando Ele é apresentado no templo, Simeão foi movido pelo Espírito Santo para dizer: “Porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos; luz para iluminar os gentios, e para glória do teu povo de Israel” Lc 2:30. 

Terceiro, a luz é aprovada por Deus. “E viu Deus que a luz era boa” (v4). Nós não podemos, agora, ampliar muito a profunda importância simbólica desta declaração, mas gostaríamos de observar que a palavra hebraica aqui traduzida “boa” também aparece em Eclesiastes 3:11 como “formosa” – “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo. Deus viu que a luz era boa, formosa! Como é obvia esta aplicação prática do nosso Senhor Encarnado! Depois de Sua chegada neste mundo, ficamos sabendo que “Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2:52), e que as primeiras palavras do Pai em relação a Ele foram, "Este é o Meu Filho amado em quem me comprazo”. Sim, boa e formosa foi a luz na percepção espiritual do Pai. Quão cego estava o homem para não ver Nele nenhuma formosura para desejá-lo!

Quarto, a luz foi separada das trevas, “E (Deus) fez separação entre a luz e as trevas” (v4). Como o Espírito Santo é vigilante ao proteger os tipos! Como Ele é cuidadoso ao chamar nossa atenção para a diferença imensurável entre o Filho do Homem e os filhos dos homens! Embora em Sua infinita condescendência Ele se visse apto para participar de nossa humanidade, contudo Ele não experimentou nossa depravação. A luz de Cristo foi separada das trevas (humanidade caída). “Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores” (Hb 7:26).

Quinto, a luz foi chamada por Deus — “Chamou Deus à luz Dia” (v5). Portanto, a luz também estava com Ele que é a Luz do Mundo. Não foi permitido a José e Maria escolherem o nome da Santa Criança. No Antigo Testamento, o profeta havia declarado, “Ouvi-me, terras do mar, e vós, povos de longe, escutai! O Senhor me chamou desde o meu nascimento, desde o ventre de minha mãe fez menção de meu nome” (Is 49:1). E para o cumprimento desta profecia, enquanto ainda no ventre de Sua mãe, um anjo é mandado por Deus a José dizendo: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus” (Mt 1:21).


II. Na obra do segundo dia a Cruz de Cristo é simbolicamente apresentada. 

Qual foi a etapa seguinte necessária à realização da Obra de Redenção? A Encarnação em si não satisfaria a nossa necessidade. “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto”. (Jo 12:24). O Cristo encarnado revela a vida perfeita e imaculada que por si só entra em contato com a mente de Deus, mas não ajuda a atravessar o espaço intransponível entre um Deus Santo e um pecador arruinado. Para tal, o pecado deve ser afastado, e isto não pode ser feito a não ser que a morte entre em cena. “Pois sem o derramamento de sangue não há remissão”. O cordeiro deve ser morto. O Santo deve entregar Sua vida. A Cruz é o único lugar onde as exigências justas do trono de Deus podem ser satisfeitas.

Na obra do segundo dia, esta segunda etapa na realização da redenção humana é simbolicamente apresentada. O acontecimento importante na obra deste segundo dia é a divisão, separação, isolamento. “E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e águas. Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez”. (v 6,7 ). É surpreendente perceber aqui que há uma divisão dupla: primeiro, há um firmamento no meio das águas e este firmamento divide as águas das águas e, segundo, o firmamento dividiu as águas que estavam debaixo dele das que estavam sobre ele. Cremos que o “firmamento”, aqui, tipifica a Cruz , e apresenta seu duplo aspecto. Lá, nosso abençoado Senhor foi dividido ou separado do próprio Deus — “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” e, também lá (na cruz), Ele foi separado do homem “Cortado da terra dos viventes” (Is 53:8).

Que o “firmamento”, aqui, realmente prefigura a Cruz, está claramente sustentado pela maravilhosa analogia entre o que aqui é nos contado a seu respeito e a sua concordância simbólica com a Cruz de Cristo. Observe quatro aspectos:

Primeiro, o firmamento foi o propósito de Deus antes de ser realmente feito. No verso 6, lê-se: “E disse Deus: Haja firmamento...”, e no verso 7, “Fez, pois, Deus o firmamento...”. Como é perfeita a relação entre aquilo que prefigura o tipo e aquilo que é prefigurado no tipo (antitipo). Muito, mas muito tempo antes que a cruz fosse erigida nas alturas do Gólgota, já era o propósito de Deus. Cristo foi “O Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. (Ap 13:8).

Segundo, o firmamento foi estabelecido no meio das águas. É bem sabido entre os estudiosos da Bíblia que na Escritura “águas” simboliza povos, nações (Ap 17:15). Na sua aplicação simbólica, portanto, estas palavras poderiam significar “Deixe a Cruz ser colocada no meio dos povos”. Múltiplas são as aplicações sugeridas por estas palavras. Mas, infinitamente mais exato, é o tipo. Nossas mentes, imediatamente, voltam-se às palavras “onde O crucificaram e com Ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio” (Jo 19:18). A situação geográfica do Calvário é do mesmo modo materialização de uma realidade: a Palestina é praticamente o centro ou o meio da terra.

Terceiro, o firmamento dividiu as águas. Portanto, a Cruz dividiu os “povos”. A Cruz de Cristo é o grande divisor da humanidade. Foi assim historicamente, o ladrão que creu, do ladrão impotente (desprotegido). Assim foi desde aquele dia e assim é hoje. Por um lado, “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem”, mas, por outro lado, “mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (1 Cor 1:18).

Quarto, o firmamento foi designado por Deus. “E Deus fez o firmamento”. Também assim foi anunciado no Dia de Pentecostes em relação ao Senhor Jesus Cristo. “Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus” (Atos 2:23). Do mesmo modo foi declarado no tempo antigo, “Agradou ao Senhor feri-lo; colocou sobre Ele o sofrimento”. A Cruz foi desígnio e compromisso divino.

Também não é profundamente significativo que as palavras, “E Deus viu que era bom” tenham sido omitidas no final da obra do segundo dia? Se elas aqui fossem incluídas o símbolo teria sido destruído. A obra do segundo dia apontava para a Cruz e, na Cruz, Deus estava lidando com o pecado. Ali, sua ira estava sendo usada sobre o Justo, o qual estava morrendo pelo injusto. Embora Ele não tivesse nenhum pecado, ainda assim Ele “foi feito pecado por nós”. Portanto, a omissão, neste ponto, da usual expressão “Deus viu que era bom” assume um significado mais profundo do que aquele até então admitido.


III. Na obra do terceiro dia a Ressurreição do Senhor é simbolicamente apresentada.

A terceira etapa necessária para a realização da obra de Redenção foi a Ressurreição do Crucificado. Um Senhor morto não poderia salvar ninguém. “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus...” Por quê? “vivendo sempre...” (Hb 7:25). 

Desta maneira está em nosso símbolo. Acima de qualquer dúvida, aquilo que foi prefigurado na obra do terceiro dia é a Ressurreição. No registro concernente ao terceiro dia é que lemos “e apareça a porção seca” (v 9). Antes disso havia estado submersa, enterrada sob as águas. Mas, agora, a porção seca é levantada acima dos mares; há ressurreição, a terra aparece. Mas isto não é tudo. No verso 11 lemos, “Produza a terra relva...”. Até este ponto a morte reinava suprema. Nenhuma forma de vida aparecia sobre a superfície da terra devastada. Mas, no terceiro dia, à terra é ordenado “produzir”. Não no segundo nem no quarto, mas no terceiro dia, a vida foi vista sobre a terra devastada! Perfeito é o símbolo para todos que têm olhos para ver. Maravilhosamente significativas são as palavras, “produza a terra” para aqueles que têm ouvidos para ouvir. Foi no terceiro dia que nosso Senhor ressurgiu dentre os mortos, de acordo com as Escrituras. De acordo com quais Escrituras? Nós não temos nestes versos 9 e 11 de Gênesis 1, o primeiro dessas escrituras, bem como o quadro original da Ressurreição de nosso Senhor?
IV. Na obra do quarto dia a Ascensão do Senhor é simbolicamente sugerida.

A Ressurreição não completou o trabalho de Redenção de nosso Senhor. Para tal Ele deveria entrar no Lugar Celestial que não fosse feito por mãos. Ele deveria tomar Seu lugar à mão direita da Majestade nas alturas. Ele deveria ir “para o mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus” (Hb 9:24).

Mais uma vez vemos que Tipo corresponde ao Antítipo. Na obra do quarto dia nossos olhos são removidos da terra e todos seus afazeres se voltam para os céus! (veja os versos 14–19) . À medida que lemos estes versos e deduzimos algo de sua importância tipológica, não vimos o Espírito Santo dizer, “Buscai as cousas lá do alto, onde Cristo vive assentado à direita de Deus. Pensai nas cousas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3: 1,2) .

E à medida que levantamos nossos olhos em direção aos céus, o que vemos? Duas grandes luzes — simbolicamente Deus e seu povo. O sol que nos fala de “Sol da Justiça” (Ml 4:2), e a lua que fala de Israel e da Igreja (Ap 12:1), tomando emprestado e refletindo a luz do sol. E observe suas funções: primeiro, eles existem “para alumiarem a terra” (v 18). Do mesmo modo acontece com Cristo e seu povo. Durante o presente intervalo de trevas, a noite do mundo, Cristo e Seu povo são “a luz do mundo”, mas durante o Milênio eles vão governar e reinar sobre a terra.

Portanto, na obra dos quatro primeiros dias de Gênesis 1, vimos a prefiguração dos quatro grandes estágios ou crises na realização da Obra de Redenção. A Encarnação, a Morte, a Ressurreição e a Ascensão de nosso abençoado Senhor estão, respectivamente, tipificadas. À luz desta prefiguração, quão preciosa são as palavras no final da obra de seis dias: “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito”(Gn 2:1,2). A obra da Redenção está completa, e nesta obra Deus encontrou Seu descanso!

Como vamos continuar nossas meditações sobre o livro de Gênesis, possa Deus, em Sua graça misericordiosa, revelar-nos “os aspectos maravilhosos de sua Lei”.

(Trecho do livro “Gleanings in Genesis”, traduzido pelo site ‘monergismo.com’)